Não Matarás e Êxodo 32:27: Contradição?

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Questionamentos


Deus entrega uma lei que diz "Não Mataras", porém em vários momentos posteriores manda os hebreus não só matar o seu próximo, como exterminar povos inteiros. Há uma contradição aí?"

No Antigo Testamento, a ideia de extermínio total de povos (o chamado herem) não é uma prática constante. Em vez disso, ela é uma ordem divina específica e pontual, ligada a um momento único na história de Israel: a conquista de Canaã.

Nesse período inicial, sob a liderança de Moisés e Josué, a destruição completa de nações idólatras, como os cananeus, não era apenas uma estratégia de guerra, mas uma ordem divina para consolidar o território de Israel. Entre os objetivos estavam a formação dos territórios de Israel, evitar que a idolatria dos povos contaminassem a nação de Israel, que deveria se manter pura. Além disso, essa medida também visava prevenir futuras vinganças.

Uma vez que Israel se estabeleceu nas terras antes ocupadas, a política de guerra mudou, não houve ordens de aniquilamento total vindas de Deus. As guerras depois desse período, apesar de muitas vezes serem violentas, não tinham o objetivo de exterminar nações inteiras, mas de submetê-las ou controlá-las. Por isso, não há registros de profetas ou sacerdotes que tenham ordenado o genocídio de povos durante os reinados posteriores, como o do rei Davi.

Ademais, a Bíblia apresenta Deus não apenas como o autor da lei, mas também como o soberano sobre ela. O mandamento "Não matarás" foi dado para regular as relações humanas e proteger a vida dentro da comunidade. No entanto, as ordens para o extermínio dos cananeus não são vistos como uma violação dessa lei, mas como a execução do juízo divino.

Pense desta forma: um juiz humano, por mais que defenda não matar, pode sentenciar um condenado à morte. A pena de morte, nesse contexto, não é um assassinato, mas uma ação judicial que a lei determina. Da mesma forma, na narrativa bíblica, Deus é o Juiz supremo de toda a terra, os hebreus, sob a liderança de Moisés, agiram como instrumentos desse juízo.



"Ele poderia matar os exércitos inimigos do seu povo amado por si mesmo...

Ele poderia ordenar que os criminosos fossem levados até algum altar e ele próprio os matar, em vez de homens aplicarem a pena de morte...

Mas por que não é assim?"


A Bíblia mostra que Deus, embora Onipotente, escolhe trabalhar em parceria com o ser humano. Ele poderia ter exterminado os exércitos inimigos de Israel sozinho, com um ato de poder, mas optou por usar os guerreiros hebreus como instrumentos de Seu juízo. Essa escolha não é por fraqueza, mas por um propósito maior: o de envolver o homem na história da salvação e do juízo.

Essa parceria constrói a fé e a obediência. Quando Deus pede a Moisés que tire o povo do Egito, Ele não apenas dá uma ordem; Ele coloca Moisés em uma jornada de fé. Moisés e o povo precisam confiar que Deus vai suprir o que for necessário, mesmo quando o caminho parece impossível. A sua participação e o seu esforço, por mais que sejam insuficientes sem a ajuda divina, são essenciais para o desenvolvimento de seu caráter e para a sua relação com Deus.

Se Deus fizesse tudo sozinho, sem a participação humana, os conceitos de fé, obediência e responsabilidade perderiam seu sentido. Não haveria a oportunidade para o homem escolher seguir a Deus, mesmo em meio às dificuldades. Por isso, a Bíblia relata que Deus permite que o homem participe de Sua obra na Terra.

Assim, quando os hebreus executaram o juízo divino sobre os cananeus, eles não estavam simplesmente "matando". Eles estavam agindo em obediência a um comando específico de Deus, em um contexto de guerra santa, onde o objetivo era purificar a terra da idolatria. Essa ação reforçava sua identidade como povo separado e fiel a Deus, em contraste com as nações ao seu redor.

Em resumo, a resposta à sua pergunta não é que Deus não pode fazer as coisas por si mesmo, mas que Ele escolhe não fazer, para que o ser humano possa se envolver, desenvolver sua fé e cumprir o propósito que foi designado para ele.



"A conexão com a humanidade poderia ser feita de N maneiras, com o próprio deus sujando suas "mãos" nas mortes em vez de mandar os homens fazerem.

Os homens poderiam fazer sua parte com prisões, por exemplo, cabendo a deus matar, já que ele é o dono da vida."


A resposta bíblica sugere que o envolvimento humano serviu como um aprendizado para Israel. O sofrimento e a morte, mesmo sendo um juízo divino, são o resultado da escolha de diversos povos. Ao envolver os hebreus, Deus estava ensinando a eles o peso do pecado e a seriedade de sua retribuição.

Essa experiência forçou os israelitas a confrontarem a realidade da desobediência e a entenderem o que era necessário para manter a terra "limpa" e a sua própria identidade separada. 

Era um lembrete visível e palpável de que o pecado traz morte e que a obediência à lei de Deus não era apenas uma formalidade, mas uma questão de vida ou morte. Por meio desse ato, Deus não apenas puniu as nações idólatras, mas também moldou o caráter de Israel, ensinando-lhes a temer as consequências do mal e a valorizar a pureza de seu pacto com Ele.


Deus age no mundo dos homens

Embora o mundo seja a arena da ação humana, Deus não se ausenta. Ele age dentro da realidade e da agência humana.

A Bíblia mostra que Deus frequentemente usa pessoas e nações para cumprir Seus propósitos, seja para abençoar, para disciplinar, ou para julgar. 

Ele não remove a liberdade de escolha do homem, mas trabalha através dela. As ordens de extermínio, naquele contexto, eram uma forma de Deus atuar na história humana, usando um povo para executar um juízo que Ele havia determinado, reforçando a seriedade de Suas leis e o Seu controle sobre o destino das nações.

Assim, a forma como Deus agiu não foi por limitação de poder, mas por um propósito didático e relacional, construindo uma profunda lição sobre a obediência e as consequências do pecado.



"Um lado erra e ambos os lados devem sofrer? 

De qualquer forma, se deus quer sofrimento de ambos os lados ele também não precisaria mandar matar para isso."


O pecado de um afeta o outro. A violência de um grupo gera violência em resposta. Na perspectiva bíblica, a guerra era o resultado final de uma sociedade que havia rejeitado Deus, e o sofrimento era a triste consequência de todas as ações.


Objeção final:

"Se alguém determina expressamente uma coisa e em seguida manda fazer outra totalmente oposta, essa pessoa entrou em contradição, esse é o sentido da palavra contradição. "



Se alguém diz "nunca farei X" e depois faz X, isso é uma contradição direta. No entanto, a Bíblia não descreve a relação entre Deus e o mandamento "Não matarás" dessa forma.

Distinção de autoridade.

A ordem "Não matarás" (Êxodo 20:13) foi dada aos hebreus para regular as suas ações, ou seja, eles não deveriam tirar a vida uns dos outros de forma injustificada. O mandamento serve para proibir o assassinato humano arbitrário.

Porém, as ordens para exterminar os cananeus, não são apresentadas como ações arbitrárias dos hebreus, mas como a execução do juízo divino. Deus, na narrativa bíblica, é o Senhor da vida e da morte. Ele não está sujeito às mesmas leis que deu aos homens para regular o comportamento humano.

Essa distinção é necessária. A lei "Não matarás" é uma ordem para o homem, não para Deus. É como se Deus estivesse dizendo: "Eu sou o dono da vida, por isso, só eu posso dar a ordem de tirá-la. Vocês, humanos, não têm essa autoridade por conta própria."

O Antigo Testamento relata uma relação em que Deus, por meio de Moisés, dava ordens diretas para cumprir propósitos específicos. 
Com a vinda de Jesus, a Nova Aliança foi estabelecida.

Agora, a missão dos cristãos não é de guerra e conquistas, mas de amor, perdão e pregação do Evangelho. As ações violentas do passado para a formação de Israel e juízo divino eram de uma época específica, não são mais aplicáveis à vida cristã.