Entrar no Reino não é um processo de acúmulo, mas de renúncia. A porta é estreita porque nela não passa o volume das nossas vaidades: o currículo religioso, a busca por aplausos ou a necessidade de estar sempre certo. Para atravessá-la, é preciso abandonar o orgulho de ser "bom o suficiente", a máscara da perfeição e o apego aos pecados de estimação. A porta exige que deixemos do lado de fora tudo o que infla o nosso "eu", pois nela só passa quem aceita se diminuir.
No relato de Lucas, muitos se surpreendem ao serem barrados. Eles clamarão que comeram e beberam na presença do Senhor, mas ouvirão que Ele não os conhece. O erro deles foi confundir proximidade com entrega. Estar perto da porta, dominar o vocabulário sagrado ou participar de rituais não é o mesmo que atravessar o batente. A porta é estreita demais para quem tenta manter uma vida dupla; ela exige uma exclusividade que a porta larga, em sua facilidade ilusória, nunca exigirá.
Não se trata, portanto, de apenas admirar os ensinamentos de Jesus, mas de submeter-se inteiramente ao Seu senhorio. É uma decisão que descarta nossos supostos méritos em favor de uma fé autêntica. Nesse caminho, o nosso "eu" abre espaço para que a vida de Deus cresça em nós.
O texto de Lucas nos confronta com uma urgência: a porta não ficará aberta para sempre. Este é um aprendizado constante para todos nós: a paciência de Deus é vasta, mas o tempo da oportunidade é hoje. A salvação não é um compromisso que possamos adiar para quando for conveniente. O convite de Jesus permanece diante de nós, lembrando-nos que, para entrar por essa porta, precisamos todos os dias escolher a humildade da entrega em vez do orgulho humano.
