Moisés profetiza sobre Jesus - Deuteronômio 18:15-19

Ruína moabita
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A passagem central em Deuteronômio 18:15-19, entendida como Moisés profetizando sobre Jesus, encontra eco e aplicação direta no livro de Atos dos Apóstolos.

Versículo 15: "O Senhor teu Deus te levantará do meio de teus irmãos um profeta como eu; a ele ouvirás." 

Versículo 16: "Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembleia, dizendo: Não mais ouvirei a voz do Senhor meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra." 

Versículo 17: "Então o Senhor me disse: Bem falaram no que disseram." Versículo 18: "Suscitar-lhes-ei do meio de seus irmãos um profeta como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar." 

Versículo 19: "E acontecerá que todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele."


Analisando as ligações da profecia com Jesus:


Ser levantado dentre os irmãos (Israelitas).

Jesus se encaixa perfeitamente nessa parte da profecia, pois ele nasceu judeu. Sua mãe, Maria, era israelita, da tribo de Judá e da linhagem do rei Davi. 

Ele veio ao mundo dentro do contexto da nação de Israel, compartilhando sua história, cultura e herança. 

Ao se encarnar como ser humano, Jesus se tornou um dos "irmãos" de Israel, cumprindo a exigência de que o profeta seria levantado do meio deles. 

Essa identidade judaica é fundamental para entender seu papel como o Messias prometido ao povo de Israel.

Ser um mediador entre Deus e o povo, assim como Moisés foi.

Moisés foi o grande mediador da Antiga Aliança entre Deus e Israel no Monte Sinai. Ele recebeu a Lei de Deus e a transmitiu ao povo, intercedendo por eles e liderando-os no deserto.

Jesus é o mediador da Nova Aliança (Hebreus 8:6; 9:15; 12:24). Ele não apenas transmite a vontade de Deus, mas também reconcilia a humanidade pecadora com um Deus santo através de seu sacrifício na cruz. 

Ele é o único caminho de acesso a Deus ("Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." - João 14:6).

Sua mediação é superior à de Moisés, pois a Nova Aliança é considerada superior à Antiga, oferecendo uma reconciliação completa e eterna através do perdão dos pecados pelo seu sangue.


Falar as palavras de Deus.

Jesus falou as próprias palavras de Deus. Sua doutrina é vista como vinda diretamente do Pai (João 7:16-17; 12:49-50). 

Seus ensinamentos sobre o Reino de Deus, o amor, o perdão e a justiça são considerados a revelação da mente e do coração de Deus. 

A autoridade com que Jesus ensinava era notável e diferente dos escribas (Mateus 7:29; Marcos 1:22), indicando que ele falava com autoridade divina.


Exigir obediência às suas palavras.

Jesus frequentemente chamou as pessoas à obediência aos seus ensinamentos e ao seguimento de seus mandamentos (João 14:15; Mateus 7:24-27). 

A fé cristã enfatiza a importância da obediência a Cristo como uma resposta genuína ao seu senhorio e salvação. 

A profecia adverte sobre as consequências de não ouvir e obedecer a este profeta, o que na perspectiva cristã se refere à necessidade de aceitar e seguir a Jesus para evitar a condenação. 

A aplicação dessa advertência por Pedro em Atos 3:23 ("E acontecerá que toda alma que não escutar esse profeta será exterminada dentre o povo.") reforça a seriedade da resposta à mensagem de Jesus.


Livro de Atos:


Atos 3:22-23 (Discurso de Pedro após a cura do coxo):


Versículo 22: "Porque Moisés disse: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser." Versículo 23: "E acontecerá que toda alma que não escutar esse profeta será exterminada dentre o povo."

Neste discurso, Pedro se dirige aos judeus no Templo, explicando o milagre da cura do coxo. Ele cita diretamente Deuteronômio 18:15 e enfatiza que este profeta, semelhante a Moisés, é Jesus. 

A advertência sobre ser "exterminado dentre o povo" é apresentada como uma consequência séria para aqueles que rejeitarem a Jesus e sua mensagem.


Atos 7:37 (Discurso de Estêvão antes do seu martírio):


"Este é o Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu."

Em seu longo discurso perante o Sinédrio, Estêvão recapitula a história de Israel, destacando a figura de Moisés. Ao mencionar a promessa de um profeta futuro semelhante a Moisés, Estêvão implicitamente aponta para Jesus como o cumprimento dessa profecia, preparando o terreno para sua acusação de que eles rejeitaram o próprio Messias prometido. 

Embora ele não cite os versículos seguintes de Deuteronômio 18, o contexto de seu discurso sugere que ele via Jesus como esse profeta esperado.

Entendimento à Luz de Atos:

Essas passagens em Atos são cruciais porque demonstram que os próprios apóstolos, que foram ensinados por Jesus e guiados pelo Espírito Santo, entenderam a profecia de Deuteronômio 18:15-19 como se referindo a Jesus Cristo. 

A autoridade apostólica na interpretação das Escrituras do Antigo Testamento é fundamental na teologia cristã.

A aplicação direta da profecia por Pedro, com a consequente exortação à obediência a Jesus, e a menção de Estêvão no contexto de sua defesa, reforçam a crença de que Jesus é o profeta prometido por Moisés, o mediador da nova aliança e aquele a quem todos devem ouvir para evitar a condenação.

Atos fornece a confirmação neotestamentária da interpretação de Deuteronômio 18:15-19, mostrando que os primeiros seguidores de Jesus reconheceram nele o cumprimento da profecia de Moisés sobre um profeta semelhante a ele, a quem todos deveriam dar ouvidos.