Livre de ambições:sossego


Crédito Imagem: istockphoto


Editado de JULIÁN FUKS,


Temos sido um tanto ambiciosos demais, um tanto vaidosos, um tanto afoitos. Algo em nossa época, algo que se relaciona à exposição constante de cada uma das nossas conquistas, por ínfima e irrelevante que seja, parece provocar em nós uma sanha maior pelo reconhecimento dos outros.

O desejo de sucesso se fez mais intenso e mais universal, o desejo de um sucesso que já não pode ser parcial ou menor, não pode ser a mera identificação de uma qualidade entre tantas. Deseja-se tudo, ser bom, ser grande, ser vastamente conhecido pelos demais, e ganhar muito dinheiro a partir disso. O que resulta da imensidade dessa ambição é uma forte tendência à insatisfação, e uma ansiedade bem difundida

"Disso tudo eu extraí uma concepção bastante obstinada e duradoura: que não existe nada a se temer tanto quanto a egolatria". Isso quem disse foi Virginia Woolf, falando sobre outro assunto, mas a declaração ainda pode ser valiosa para os nossos fins. Uma cultura ególatra, feita de um amor excessivo de cada um por si mesmo e por sua imagem, não nos conduz a realizações inimagináveis, e sim a uma subjetividade em crise,atravessada por inseguranças e vaidades emprestadas. 

A ambição em suas últimas consequências não gera a superação dos limites alguma vez concebidos para a humanidade, e sim o contrário, a percepção da mesquinhez de que somos feitos, daquilo que nos limita e nos abate.

A vaidade de um artista, em particular, pode alcançar níveis incomensuráveis.

Woolf em seu diário dá indícios do alívio que sentiu ao saber da morte de Katherine Mansfield, uma amiga e uma escritora que ela admirava, por se ver então livre de uma rival — sentimento logo sucedido pela tristeza mais razoável e por uma dor muito mais real. 

Esforço-me em tentar calar os clamores da ambição, as estridências da vaidade, para existir apenas comigo e com os que me cercam, em estado de simplicidade.


Editado:

https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2022/07/23/sobre-o-sossego-que-podemos-sentir-quando-nos-livramos-das-ambicoes.htm