The City of Ur -IraqueCrédito: Wikimedia Commons
Uma falha metodológica persistente tem empobrecido os debates online entre ateus e teístas bíblicos: a negligência fundamental quanto aos atributos da natureza divina. Frequentemente, as discussões se perdem em detalhes técnicos sem que ambas as partes compreendam — ou respeitem — as premissas ontológicas que definem o conceito de Deus. O resultado é um diálogo de surdos, onde se tenta julgar o infinito com as réguas limitadas do mundo material.O erro do lado cético reside, geralmente, em uma tentativa de cercar a divindade através da ciência empírica. Ao questionar a manifestação de Deus baseando-se em leis físicas, o ateu incorre em um erro de categoria: ele tenta aplicar as regras de um sistema (o universo) ao seu suposto arquiteto, que, por definição, é transcendente e não sujeito a tais limitações. Tentar afirmar a inexistência da manifestação de Deus porque ela "viola" a física é ignorar que a onipotência, por definição, precede e sustenta a própria física.
Entretanto, muitos teístas bíblicos frequentemente cometem um equívoco simétrico. Em vez de elevar a discussão ao campo da metafísica e dos atributos divinos, muitos desses debatedores aceitam o campo de batalha puramente naturalista. Ao tentarem justificar eventos apenas por vias científicas, eles acabam por "apequenar" a divindade, tratando-a como um agente dentro do cosmos, e não como a causa primária de tudo o que existe. O papel do teísta bíblico não deveria ser o de encontrar uma brecha na ciência para Deus, mas sim o de pontuar que os atributos divinos são as premissas básicas de qualquer evento descrito na Escritura.
O debate sobre o Dilúvio é um exemplo emblemático dessa dissonância. É comum observar críticos argumentando que o evento seria fisicamente impossível, pois a energia liberada por tal volume de água geraria um calor capaz de derreter a crosta terrestre. O argumento opera dentro de um sistema fechado, mas teologicamente irrelevante. Se o agente da narrativa é um ser onipotente e onisciente, o controle sobre as variáveis físicas — como a dissipação de energia ou a contenção de danos térmicos — está inteiramente sob seu domínio. Para um ser que cria as leis da termodinâmica, suspendê-las ou manipulá-las para um propósito específico não representa um desafio lógico ou prático.
Em última análise, a exaustão desses embates poderia ser evitada se houvesse um retorno ao estudo da teologia clássica. Quando se compreende a profundidade do que significam a onipotência e a onisciência, percebe-se que a ciência é uma ferramenta para entender a obra, mas é insuficiente para limitar o Autor. Esse tipo de debate só se tornará produtivo quando as discussões deixarem de focar apenas no fenômeno e passarem a considerar seriamente a natureza do Agente que o fundamenta.
