A parábola do Rico e o Lázaro foi uma história real?

Crédito Imagem: Gustav Doré


Muitas pessoas afirmam que "Rico e o Lázaro" é uma parábola, em algumas edições bíblicas os editores colocam o seguinte subtitulo no capítulo da narrativa:"A Parábola do Rico e Lazaro".


Algo interessante a observar é que nas parábolas de Jesus, diferentemente da narrativa sobre Lázaro, não encontramos nomes de pessoas.


O fato dele ter dado nomes aos personagens bastaria para crermos que se trata de uma passagem literal? 

Bem, a primeira e maior regra que existe para se interpretar as palavras e os ensinos de Jesus, é aceitar que ele sempre fala a verdade, essa certeza advém da crença que ele realmente ressuscitou e que os documentos que compõem a Bíblia são confiáveis.


Jesus não falaria acerca de algo que não tenha sido verdadeiro e muito menos confirmaria uma ideia errada sobre esta questão. É inconcebível crer em Jesus e ao mesmo tempo duvidar do que ele diz. 


E se ele coloca no texto o nome de uma figura tão importante da história judaica, que é Abraão, não podemos duvidar dele. Além disso, ao estudar melhor outras narrativas semelhantes, especialmente no livro de Lucas, observamos que o autor do evangelho (Lucas), ou o próprio Jesus, sempre diz quando se trata de uma parábola.




Após a parábola do mordomo fiel (Lucas 16-1-13), lembrando que parábola não significa que a história não seja literal, o texto fala da situação que ocorria ali, no ambiente em que Jesus estava, com os fariseus zombando. 

Em Lucas 16-19, podemos entender que Jesus não falava por parábola uma vez que não há nenhuma informação de que ele falava ao povo ou aos fariseus.

Depois Jesus foi a Jerusalém, e só aí encontrou outros fariseus, voltando a discursar ao povo, em Lucas 17:20. 

Ou seja, de Lucas 16:19  à Lucas 17:19, o texto não é parábola.


-) Jesus só falava por parábolas?


O Evangelho faz uma diferenciação de quando Jesus falava por parábola ou não, em Mateus é explicado que ele falava por parábola ao povo, já em Marcos, é reafirmado que ele falava por parábolas ao povo, mas também acrescenta a informação de que ele falava de forma mais direta aos discípulos, veja:


"Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem." 
Mateus 13:13 


E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender.


E sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos seus discípulos.
Marcos 4:33-34.



Exemplos de Jesus se comunicando por Parábolas:

Parábola do Servo Vigilante.
"E sede vós Semelhantes.."

Parábola do Grã de Mostarda.
"E dizia: A que é Semelhante...'

Parábola dos primeiros assentos.
"E disse aos convidados uma parábola..."

Parábola da grande ceia.
"E, ouvindo isso um dos que estavam à mesa.." (Jesus estava na casa de um fariseu)

Parábola acerca da providência.
"Ora, ia com ele uma grande multidão.."

Parábola do filho pródigo.
'Ele lhe propôs uma parábola..."



Parábola do Fariseu e do publicano
"E disse também uma parábola..."


Vamos examinar:


Jesus falava muito por parábolas, mas todas elas estão identificadas no próprio texto, como por exemplo: "propôs uma parábola", lhes contou uma parábola" ou "semelhante a". 

 Não é o caso de o Rico e o Lazaro, que inclusive usa o nome de Abraão no relato.


Jesus só falava por parábolas à MULTIDÃO (alguém do povo), não aos discípulos, veja a seguir:


"Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão, e nada lhes falava sem parábolas" 
Mateus 13:34


Os discípulos perguntam por que Jesus só falava por parábolas ao povo:


"E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?" 
Mateus 13:10


Jesus responde em Mateus 13:11-17




Lázaro se alimentava debaixo da mesa do rico?



Não é isso que o texto diz, vejamos:


"Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele;
E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas."
Lucas 16:20-21



O que podemos tirar do texto é que Lázaro era um mendigo, excluído e doente, que ficava à porta da residência de um rico, provavelmente, atrás de sobras de alimento da casa para comer, algo até pouco tempo atrás comum antes da evolução social do último século e talvez presente em algumas regiões. 

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Parábolas são fábulas?


Há muita confusão a esse respeito, mas parábola não é necessariamente uma fábula, mas é essencialmente um texto comparativo, e no caso de Jesus, provavelmente, com situações tiradas do cotidiano de pessoas reais.




Conclusão:


Todas as parábolas podem ser identificadas pelos seguintes fatos: Ou Jesus diz que é uma parábola, ou utiliza o "semelhante a"(claramente uma metáfora), ou diz que estava com alguém do povo ou multidão, nada disso aparece no relato de Rico e o Lázaro que é uma narrativa direta utilizando o nome do patriarca histórico Abraão. Essa narrativa, portanto, mesmo que não saibamos como Jesus soube da história (onisisciência?), evidencia elementos de uma história real na forma como Jesus se comunicava.